Adeus Socialismo
Lembro-me, como se
fosse ontem, quando a três anos atrás eu rasgava meu último documento,
que me ligava ao PSDB. Fiz isso num misto de dor e decepção, pois com
este partido aprendi o que era a vida política, mesmo com o fisiologismo
que existia dentro dele.
Da
mesma forma, que eu amava o PSDB eu passei a odiá-lo, quando retomei as
minhas leituras, do manifesto comunista, do 18 Brumário e de tantos
outros livros e textos marxistas. Me enfiei de cabeça na militância
política, mesmo com as desconfianças e preconceitos que haviam por parte
das outras pessoas em relação a mim.
Pois
é, fui aprender o que de fato era ser de esquerda, me engajei nos
movimentos, aprendi palavras de ordem, lemas libertários, aprendi até a
cantar a Internacional Socialista. Mudei meus conceitos sobre as
mulheres, sobre os homossexuais, sobre o MST, enfim, virei uma outra
pessoa, completamente diferente.
Ingressei
no P-SOL e comecei a militar, me afastei de alguns amigos que eu
julgava ser ¨má influência ideológica¨ e fiz um novo circulo de
amizades.
Hoje
percebo, que todo essa mudança, esse engajamento, essa reciclagem, esse
radicalismo político, esse ódio ao PSDB, enfim, tudo isso não serviu
para coisa nenhuma. Serviu sim, para me deixar uma pessoa extremamente
fechada e transtornada, decepcionada com a felicidade.
Tudo
isso trouxe como consequências para mim, um horizonte reduzido, uma
pobreza teórica, literária e até de valores. Tudo isso em nome de um
suposto ¨ideal¨que nem mesmo os nosso ¨inspiradores políticos¨ seguem
mais.
Percebi
que ser socialista estava me fazendo mal, quando comecei a esboçar
¨reações violentas¨ de intolerância contra amigos que tinham opiniões,
estilo e até conceitos diferentes dos meus. Ao ponto de querer ¨sair no
braço¨ com um deles.
Percebi
também que quase todas as pessoas ¨ditas de esquerda¨ são intolerantes,
grossas, arrogantes, desrespeitosas e que constantemente patrulham as
nossas opiniões, estilo de vida, nossa roupa e até os amigos com quem
nos relacionamos. Não estou dizendo que todos são assim, mas alguns que
eu conheci, me passaram essa impressão. E isso tem me contaminado de
forma muito seria.
Ontem
tomei a decisão mais difícil da minha vida, talvez mais dolorosa do
que a que eu tive a três anos atrás. Vou dar adeus ao socialismo. Mais
não será fácil pois, ser de esquerda não é como trocar de roupa ou de
video-game.
Ser
de esquerda é como ser torcedor fanático de um time de futebol, é
paixão, é um estado de espírito, é estilo de vida, é doar o seu corpo e
sua alma para uma causa invisível. Comparo o ato de ser de esquerda,
como o ato de ser cristão, é uma entrega pessoal, uma entrega que muda
completamente a nossa forma de ver o mundo.
Mas
infelizmente para mim não dá mais, pois eu já não sou mais o mesmo, já
não me reconheço mais, sinto um vazio muito grande por dentro, uma
vontade de liberdade que eu jamais tive, uma vontade de eu fazer o que
eu quiser, ir a onde eu quiser, conversar com quem eu quiser, sem medo
de estar traindo este ou aquele princípio.
De
tudo que eu herdei dessa fase, e da qual eu sinto orgulho, é que, eu me
tornei mais humano, vejo a realidade de uma maneira diferenciada, eu
consigo me colocar na pele do oprimido, isso talvez seja a única
característica esquerda, que eu captei.
Não
sei o que vou ser ou vou fazer daqui para frente, não sei como irei
recuperar o tempo perdido, pois estou num ¨vaco infinito¨ de horizonte,
de caminhos a seguir. Vou continuar sendo o que sou, um humanista, mas
certamente não irei mais encarar o mundo de maneira sectária.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, depois dessa decisão, estou bem mais feliz e com o coração leve. E viva a liberdade!