27.8.12

Conto: Andanças


Eu andava naquela rua, era de noite, estava um calor desgraçado. Via travestis e prostitutas se oferecendo aos montes, a qualquer preço, bastava só escolher. A rua estava meio deserta, mais volta e meia passavam alguns carros, carros novos, velhos, em bom e em mau estado, carros, simplesmente carros.

            Andei por algum tempo até chegar ao meu destino, ao velório de um amigo, um amigo querido, que assim como eu gostava de escrever, gostava de tomar uma cervejinha, mas, sabe-se lá porque, ele resolveu morrer.  Foi triste, sua esposa estava triste, também estavam tristes suas filhas. 

            Abracei todas, tentei dizer algo, mais não consegui. Encontrei velhos amigos, também velhos desafetos. Com todo o carinho abracei os meus amigos, (que também eram amigos do morto), com lagrimas nos olhos. Também, abracei os desafetos, estes lógico, por elegância, para não pegar mal, afinal, quem deveria ser o centro das atenções, era o amigo que acabara de partir para o paraíso. Afinal, será que ele existe? Quem? O paraíso?

            Não sei, fico às vezes me indagando sobre isso, afinal, porque deveria existir um paraíso, eu me questiono porque morremos. Afinal, vivemos neste mundo, nascemos, crescemos, estudamos feito louco, arrumamos emprego, nos esforçamos ao Maximo para trabalhar, agüentar gente, que nos odeiam, ganhar dinheiro, comprar coisas, ficar ricos e no fim das contas, para nada, pois a qualquer momento acabamos morrendo. O que pode ter de melhor numa outra vida? Se é que ela existe.

            Deixo de filosofar sobre a morte e volto ao velório, passo os olhos no corpo morto, choro e lembro-me dos bons e maus bocados, que passei com aquele cara, lembro das boas e também das más coisas que ele me aprontou, afinal, não é porque ele morreu que vai virar santo.  Enfim, passou um filme na minha cabeça.

            Novamente cumprimento a família, os amigos e os desafetos e saio dali, atordoado, sem saber para onde ir.

            Saio pela cidade, já é madrugada, fico olhando a rua em que eu ando quase deserta, solitariamente, observo os prédios, muitos já com as luzes apagadas, mais ainda é possível encontrar alguém naqueles prédios, que assim como eu, prefere a solidão noturna. Esbarro em alguém, ele me diz qualquer coisa, respondo negativamente e continuo o meu trajeto.

            Ele por sua vez, começa a me xingar de diversos nomes feios, até minha mãe entra na rol dos palavrões. Penso em voltar, para tirar satisfações ou dar uns sopapos nele, mais dessa vez a minha racionalidade fala mais alto do que a minha valentia.

            Por fim, saio andando sem olhar para trás, penso novamente na morte do meu amigo, e continuo andando pela rua deserta.  Chego a um lugar, um barzinho, encontro pessoas conhecidas que me convidam a sentar, me oferecem cerveja, encho o meu copo, ao fundo, está tocando um blues qualquer, não conheço muito de blues, por isso não vou ariscar quem seja. Os assuntos são variados, futebol, política, música, mulher, coisas triviais mais que naquela mesa, se transforma numa discussão filosófica.

            Por mais que eu tente, não consigo esconder a minha tristeza, meu semblante me denuncia e os que estão na mesa percebem. Conto do acontecido, alguns ficam tristes, outros ficam em silencio, mais logo emendam outro assunto e a conversa continua solta.

            Tomo mais um copo de cerveja e me distraio com a musica, olho para o lado e vejo uma menina, bonitinha até, estava com um vestido preto, decotado, com uma bela tatuagem colorida em suas costas, seus cabelos eram vermelhos, amarrados em forma de rabo-de-cavalo, me aproximo, troco algumas palavras, discorro sobre alguns assuntos, tive a impressão de que eu estava agradando, pois ela ria de tudo do que eu falava, mas como saber? Talvez ela estivesse rindo de mim. Estava interessado em lhe beijar, mais desisti da ideia.

            Volto à mesa e sou alvo de chacotas, pois segundo eles, eu tinha levado um fora, mais sinceramente não me lembro, o ambiente estava turvo, não entendia direito o que se passava.

            Fiquei naquele lugar por alguns minutos, falando abobrinhas, logo em seguida me levantei, tirei uma nota de cinqüenta para ajudar na conta que foi recusada, pois segundo eles, ¨eu era convidado¨ e não precisava pagar. Sai do bar e percebi que a lua já estava baixando, certamente estava para amanhecer, volto pela mesma rua em que sai, estava frio e os travestis e as prostitutas já não estavam mais lá. 

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial